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confissão de fé batista de londres de 1677/1689

 

Desenvolvida pelos anciãos e irmãos de muitas Congregações de Cristãos (batizados sobre profissão de sua fé) em Londres e no País.

“Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação” (Romanos 10:10)


TÍTULOS DOS CAPÍTULOS

1. Das Sagradas Escrituras
2. De Deus e da Santíssima Trindade
3. Dos Decretos de Deus
4. Da Criação
5. Da Divina Providência
6. Da Queda do Homem, do Pecado, e do Castigo desse
7. Da Aliança de Deus
8. De Cristo, o Mediador
9. Do Livre-Arbítrio
10. Do Chamado eficaz
11. Da Justificação
12. Da Adoção
13. Da Santificação
14. Da Fé Salvífica
15. Do Arrependimento para a Vida e Salvação
16. Das Boas Obras
17. Da Perseverança dos Santos
18. Da A Segurança da Graça e Salvação
19. Da Lei de Deus
20. Do Evangelho e a Extensão da Graça Desse
21. Da Liberdade Cristã e da Liberdade de Consciência
22. Do Culto Religioso e do Dia de Sabath
23. Dos Juramentos Lícitos e Votos
24. Do Magistrado Civil
25. Do Matrimônio
26. Da Igreja
27. Da Comunhão dos Santos
28. Do Batismo e a Ceia do Senhor
29. Do Batismo
30. Da Ceia do Senhor
31. Do Estado do Homem Após a Morte, e a Ressurreição dos Mortos
32. Do Juízo Final


APRESENTAÇÃO

“Pensei ser correto reimprimir em uma forma econômica esta excelente lista de doutrinas, que foram subscritas por Ministros Batistas no ano de 1689. Nós precisamos de uma bandeira pela causa da verdade; pode ser que este pequeno volume ajude a causa do glorioso Evangelho, testemunhando claramente quais são as suas principais doutrinas… Que o Senhor em breve restaure à Sua Sião a pura linguagem e que os seus vigias vejam olho a olho”. Assim escreveu o jovem C. H. Spurgeon, então no segundo ano de seu ministério em New Park Street Chapel, Southwark, em um prefácio dirigido a toda a família da fé, que se alegra nas doutrinas gloriosas da Livre Graça com a qual ele prefixou esta Confissão quando ele a publicou em Outubro de 1855.

A própria confissão foi compilada pela primeira vez pelos Presbíteros e Irmãos de muitas congregações de Cristãos, batizados mediante a sua profissão de fé, em Londres e no país (como eles se descreveram na ocasião) no ano de 1677. Ela baseou-se, e extraiu a sua inspiração da Confissão elaborada pela Assembleia de Teólogos de Westminster numa geração anterior, e na verdade só difere dela em seu ensinamento sobre tais assuntos, como o batismo, a Ceia do Senhor e governo da igreja, sobre os quais, dentre as igrejas Reformadas, os Batistas diferem dos Presbiterianos. Por medo de perseguição, os compiladores da Confissão de 1677 não assinaram seus nomes, mas quando, em setembro de 1689, depois da revolução do ano anterior, os Ministros e Mensageiros das igrejas puderam se encontrar em tempos mais pacíficos, trinta e sete deles, incluindo todos os ministros Batistas mais eminentes da época, assinaram os seus nomes para a recomendação que circulou entre as igrejas. Depois disso, entre 150 e 200 anos, esta permaneceu a Confissão de Fé definitiva das igrejas Batistas Particulares (ou Calvinistas) da Inglaterra e País de Gales.

O Sr. Spurgeon, todavia, quando republicou esta confissão, não meramente a prefaciou com certas palavras de recomendação geral. Ele também dirigiu à sua própria igreja em New Park Street algumas palavras práticas de conselhos sobre como eles deveriam usar a Confissão. Estas ainda hoje são relevantes.

“Este pequeno volume”, ele escreveu, “não é emitido como uma regra autoritativa, ou código de fé, pelo que vocês devem ser constrangidos, mas como uma ajuda para vocês em controvérsia, uma confirmação na fé, e um meio de edificação na justiça. Aqui os membros mais jovens da nossa igreja terão um Corpo de Teologia, que servirá como uma pequena bússola, e por meio de provas bíblicas, estarão prontos para dar a razão da esperança que está neles.

Não se envergonhem de sua fé; lembrem-se que este é o antigo Evangelho dos mártires, confessores, reformadores e santos. Acima de tudo, é a verdade de Deus, contra o qual todas as portas do inferno não prevalecerão. Deixem suas vidas adornar a sua fé, deixem o seu exemplo enfeitar o seu credo. Acima de tudo, vivam em Cristo Jesus, e andem nEle, não crendo em nenhum ensinamento, senão no que é manifestamente aprovado por Ele, e de propriedade do Espírito Santo. Apeguem-se forte à Palavra de Deus que está aqui mapeada para vocês”. Esta nova edição da Confissão é enviada como um empreendimento privado por um pequeno grupo de Batistas que estão convencidos de que eles têm uma mensagem para esta geração e acreditam que sua publicação está muito atrasada. Eles esperam que ela conseguirá uma ampla circulação entre as igrejas, e receberá o estudo atento que eles acreditam que será ricamente recompensado.

Na Inglaterra durante 1630 e 1640 Congregacionais e Batistas Calvinistas surgiram a partir da Igreja da Inglaterra. Sua inicial existência foi marcada por ciclos repetidos de perseguição nas mãos da religião estabelecida pela coroa e pelo Parlamento. O infame Código Clarendon foi adotado em 1660 para esmagar toda a dissidência da religião oficial do Estado. Períodos de aplicação rigorosa e intervalos de relaxamento destes atos coercitivos assombraram Presbiterianos, Congregacionais e Batistas, semelhantemente.

Presbiterianos e Congregacionais, menos do que os Batistas, sofreram sob este assédio. Não poucas razões para o seu relativo sucesso em resistir à tirania do governo era a sua frente unida de acordo doutrinário. Todos os Presbiterianos permaneciam com sua confissão de Westminster de 1646. Os Congregacionalistas adotaram praticamente os mesmos artigos de fé, na Confissão de Savoy de 1658. Sentindo a substancial unidade deles com os pedobatistas, sofrendo sob a mesma cruel injustiça, Calvinistas Batistas se reuniram para publicar sua substancial harmonia com eles na doutrina.

Uma carta circular foi enviada às igrejas Batistas, especialmente na Inglaterra e no País de Gales, pedindo que cada assembleia enviasse representantes para uma reunião em Londres, em 1677. Uma confissão conscientemente modelada à Confissão de Fé de Westminster foi aprovada e publicada. Esta, desde então, nasceu com o nome da Segunda Confissão de Londres. A primeira Confissão de Londres fora emitida por sete congregações Batistas de Londres, em 1644. Esse primeiro documento tinha sido elaborado para distinguir Batistas Calvinistas recém-organizados dos Batistas Arminianos e dos Anabatistas. Porque esta segunda Confissão de Londres foi elaborada em horas escuras de opressão, foi emitida de forma anônima.

O prefácio da publicação original de 1677, diz em parte: “… Há agora muitos anos desde que muitos de nós… nos percebemos sob uma necessidade de publicar uma confissão de nossa fé, para a informação e satisfação dos que não entenderam completamente quais eram os nossos princípios, tendo entretido preconceitos contra a nossa profissão… Esta foi desenvolvido, a primeiramente, em meados de 1643, em nome de sete congregações então reunidas em Londres…” (Esses primeiros Batistas estavam conscientes de que a Confissão Batista Calvinista de 1644 antecedeu a Confissão Presbiteriana de 1646 e a Confissão Congregacional de 1658).

“Porquanto esta confissão não deve agora ser tida comumente; e também muitos outros têm, desde então, abraçado a mesma verdade que está contida nela; julgou-se necessário por nós que nos uníssemos em dar um testemunho ao mundo de nossa firme adesão a esses princípios salutares…”


A CONFISÃO DE FÉ BATISTA

Capítulo I: Das Sagradas Escrituras

1. A Santa Escritura é a única, suficiente, correta, e infalível regra de todo conhecimento, fé, e obediência salvíficos1, embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência, manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conhecimento de Deus e Sua vontade, que é necessário para a salvação2; portanto aprouve ao Senhor, em diversas ocasiões, e de muitas maneiras, revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja3; e, posteriormente, para melhor preservação e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma completamente por escrito; o que faz da Sagrada Escritura a mais necessária; aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora estão completados4.

1 2 Timóteo 3:15-17; Isaías 8:20; Lucas 16:29,31; Efésios 2:20
2 Romanos 1:19-21, 2:14,15; Salmos19:1-3
3 Hebreus 1:1
4 Provérbios 22:19-21; Romanos 15:4; 2 Pedro 1:19,20

2. Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os Livros do Antigo e do Novo Testamento, que são estes:

DO ANTIGO TESTAMENTO: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crônicas, 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salomão, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

DO NOVO TESTAMENTO: Os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos dos Apóstolos, as Epístolas de Paulo aos Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemon, a Epístola aos Hebreus, a Epístola de Tiago, a Primeira e Segunda Epístolas de Pedro, a Primeira, Segunda e Terceira Epístolas de João, a Epístola de Judas, Apocalipse.

Todos os quais são dados por inspiração de Deus, para ser a regra de fé e vida5.

5 2 Timóteo 3:16

3. Os Livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração Divina, não fazem parte do cânon ou regra da Escritura; e, portanto, não são de autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escritos humanos6.

6 Lucas 24:27,44; Romanos 3:2

4. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (que é a própria Verdade), o seu Autor; e, portanto, deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus7.

7 2 Pedro 1:19-21; 2 Timóteo 3:16; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 João 5:9

5. Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja de Deus a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; e a sublimidade do assunto, a eficácia da sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus; ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito Santo, testemunhando por meio da e com a Palavra em nossos corações8.

8 João 16:13,14; 1 Coríntios 2:10-12; 1 João 2:20,27

6. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado ou necessariamente contido na Escritura Sagrada, ao que nada, em qualquer tempo deve ser acrescentado, seja por novas revelações do Espírito, ou por tradições humanas9. No entanto, nós reconhecemos a iluminação interior do Espírito de Deus sendo necessária para a salvífica compreensão das coisas reveladas na Palavra10; e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto a Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência Cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que devem sempre ser observadas11.

9 2 Timóteo 3:15-17; Gálatas 1:8,9
10 João 6:45; 1 Coríntios 2:9-12
11 1 Coríntios 11:13,14; 1 Coríntios 14:26,40

7. Nem todas as coisas em si mesmas são igualmente claras na Escritura, nem igualmente claras a todos12; ainda assim, aquelas coisas que necessitam ser conhecidas, cridas, e observadas, para a salvação, são tão claramente propostas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura, que não apenas os doutos, mas os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas13.

12 2 Pedro 3:16
13 Salmos 19:7; Salmos 119:130

8. O Antigo Testamento em Hebraico (que era a língua nativa do povo de Deus no passado)14, e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais comumente conhecido entre as nações), sendo imediatamente inspirados por Deus e pelo Seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos; assim, em todas as controvérsias sobre a Religião, a Igreja deve apelar para eles15. Mas, porque essas línguas originais não são conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e é ordenado, no temor de Deus, ao lê-las16 e a examina-las17, portanto, elas devem ser traduzidas para a língua comum de cada povo aonde chegar18, para que, a Palavra de Deus habitando abundantemente em todos, eles possam adorá-lO de uma maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras, possam ter esperança19.

14 Romanos 3:2
15 Isaías 8:20
16 Atos 15:15
17 João 5:39
18 1 Coríntios 14:6,9,11,12,24,28
19 Colossenses 3:16

9. A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura; e, portanto, quando houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer escritura (que não é múltipla, mas única), esse pode ser investigado por meio de outros textos que o expressem mais claramente20.

20 2 Pedro 1:20, 21; Atos 15:15, 16

10. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias da religião devem ser determinadas, e todos os decretos de conselhos, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos particulares, devem ser examinados, e em cuja sentença devemos nos firmar, não pode ser outro senão o Espírito falando na Escritura; no que a Escritura assim anuncia, nossa fé é finalmente decidida21.

21 Mateus 22:29, 31, 32; Efésios 2:20; Atos 28:23


Capítulo II: De Deus, e a Santa Trindade

1. O Senhor nosso Deus é somente um Deus vivo e verdadeiro1; cuja subsistência está em e de si mesmo2, infinito em seu ser e perfeição; cuja essência não pode ser compreendida por qualquer outro, senão por Ele mesmo3; um espírito puríssimo4, invisível, sem corpo, partes ou paixões, a quem somente pertence a imortalidade, que habita em luz que nenhum homem pode acessar5; que é imutável6, imenso7, eterno8, incompreensível, onipotente9, em tudo infinito, santíssimo, sapientíssimo10, completamente livre e absoluto, operando todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade imutável e justíssima11, para a Sua própria glória12; É cheio de amor, gracioso, misericordioso, longânimo, abundante em bondade e verdade, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado; o galardoador dos que o buscam13 e, contudo, justíssimo e terrível em Seus julgamentos14; odiando todo pecado15; e que não tem por inocente o culpado16.

1 1 Coríntios 8:4,6; Deuteronômio 6:4
2 Jeremias 10:10; Isaías 48:12
3 Êxodo 3:14
4 João 4:24
5 1 Timóteo 1:17; Deuteronômio 4:15,16
6 Malaquias 3:6
7 1 Reis 8:27; Jeremias 23:23
8 Salmos 90:2
9 Gênesis 17:1
10 Isaías 6:3
11 Salmos 115:3; Isaías 46:10
12 Provérbios 16:4; Romanos 11:36
13 Êxodo 34:6,7; Hebreus 11:6
14 Neemias 9:32,33
15 Salmos 5:5,6
16 Êxodo 34:7; Naum 1:2,3

2. Deus possui toda a vida17, glória18, bondade19, bem-aventurança, em e de si mesmo; Ele é todo suficiente para si, e não possui necessidade de quaisquer criaturas que Ele fez, nem delas deriva glória alguma20, mas apenas manifesta sua própria glória em, por, para e sobre elas; ele é a única origem de todo ser, de quem, por quem e para quem são todas as coisas21; e exerce soberano domínio sobre todas as criaturas, para fazer por elas, para elas ou sobre elas tudo que lhe apraz22. Todas as coisas estão manifestas e patentes diante dele23; seu conhecimento é infinito, infalível e independente da criatura; assim como nada para ele é contingente ou incerto24. Ele é santíssimo em todos os seus conselhos, em todas as suas obras25 e em todos os seus comandos. Para ele, é devido da parte de anjos e homens todo o culto26, serviço ou obediência que, como criaturas, eles devem em relação ao seu Criador, e tudo quanto mais Ele se agradar em requerer deles.

17 João 5:26
18 Salmos 148:13
19 Salmos 119:68
20 Jó 22:2,3
21 Romanos 11:34-36
22 Daniel 4:25,34,35
23 Hebreus 4:13
24 Ezequiel 11:5; Atos 15:18
25 Salmos 145:17
26 Apocalipse 5:12-14

3. Em seu Ser divino e infinito há três subsistências, o Pai, a Palavra ou o Filho, e o Espírito Santo27, de uma só substância, poder e eternidade, cada um possuindo completa essência divina, e ainda a essência é indivisível28: O Pai não é de ninguém, nem gerado nem procedente; o Filho é eternamente gerado do Pai29; o Espírito Santo é procedente do Pai e do Filho30; todos infinitos e sem princípio de existência. Portanto, um só Deus; que não deve ser divido em seu ser ou natureza, mas, sim, distinguido pelas diversas propriedades peculiares e relativas, e relações pessoais; Esta doutrina da Trindade é o fundamento de toda a nossa comunhão com Deus, e confortável dependência dEle.

27 1 João 5:7; Mateus 28:19; 2 Coríntios 13:14
28 Êxodo 3:14; João 14:11; 1 Coríntios 8:6
29 João 1:14,18
30 João 15:26; Gálatas 4:6


Capítulo III: Dos Decretos de Deus

1. Deus decretou em Si mesmo, desde toda a eternidade, pelo mui sábio e santo Conselho de Sua própria vontade, ordenou livre e imutavelmente todas as coisas, seja o que for que venha a acontecer1; ainda assim, de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem tem comunhão com algo nisso2; nem é violentada a vontade da criatura, nem ainda é eliminada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas3; nas quais demonstra-se a Sua sabedoria em dispor de todas as coisas, e poder e fidelidade em efetuar os Seus decretos4.

1 Isaías 46:10; Efésios 1:11; Hebreus 6:17; Romanos 9:15,18
2 Tiago 1:13; 1 João 1:5
3 Atos 4:27,28; João 19:11
4 Números 23:19; Efésios 1:3-5

2. Embora Deus conheça tudo o que possa ou venha a ocorrer, sobre todas as circunstâncias imagináveis5; ainda assim Ele não decretou qualquer coisa, porque Ele a previu como futura, ou como aquilo que poderia ocorrer, em tais condições6.

5 Atos 15:18
6 Romanos 9:11,13,16,18

3. Por meio do decreto de Deus e para manifestação da Sua glória, alguns homens e anjos são predestinados ou preordenados para a vida eternal por meio de Jesus Cristo7, para o louvor de Sua gloriosa graça8; outros são deixados a agir em seus pecados para a sua justa condenação, para o louvor da Sua gloriosa justiça9.

7 1 Timóteo 5:21; Mateus 25:34
8 Efésios 1:5,6
9 Romanos 9:22,23; Judas 4

4. Esses anjos e homens, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; e o seu número é tão certo e definido, que não pode ser aumentado ou diminuído10.

10 2 Timóteo 2:19; João 13:18

5. Aqueles da humanidade que são predestinados para a vida, Deus, antes da fundação do mundo, de acordo com o Seu propósito eterno e imutável, e o secreto conselho e beneplácito de Sua vontade, os escolheu em Cristo, para a glória eterna, por Sua pura livre graça e amor11, não por qualquer outra coisa na criatura, como condições ou causas que O movesse a isso12.

11 Efésios 1:4, 9, 11; Romanos 8:30; 2 Timóteo 1:9; 1 Tessalonicenses 5:9
12 Romanos 9:13,16; Efésios 2:5,12

6. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo propósito eterno e mui livre de Sua vontade, preordenou todos os meios para isso13. Portanto, aqueles que são eleitos, estando caídos em Adão são remidos por Cristo14, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo Seu Espírito, que opera no tempo devido; são justificados, adotados, santificados15 e preservados pelo Seu poder por meio da fé para a salvação16. Nem são quaisquer outros redimidos por Cristo, eficazmente chamados, justificados, adotados, santificados e salvos, senão somente os eleitos17.

13 1 Pedro 1:2; 2 Tessalonicenses 2:13
14 1 Tessalonicenses 5:9, 10
15 Romanos 8:30; 2 Tessalonicenses 2:13
16 1 Pedro 1:5
17 João 10:26, 17:9, 6:64

7. A doutrina deste elevado mistério da predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, para que os homens, atendendo à vontade de Deus revelada em Sua Palavra, e prestando obediência a isso, possam, a partir da certeza da sua vocação eficaz, certificar-se de sua eleição eterna18. Portanto, esta doutrina deve motivar o louvor19, reverência e admiração a Deus; e humildade20, diligência e consolação abundante para todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho21.

18 1 Tessalonicenses 1:4,5; 2 Pedro 1:10
19 Efésios 1:6; Romanos 11:33
20 Romanos 11:5,6,20
21 Lucas 10:20


Capítulo IV: Da Criação

1. No princípio aprouve a Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo1, para a manifestação da glória do seu eterno poder2, sabedoria e bondade, criar ou fazer o mundo, e todas as coisas nele, sejam visíveis ou invisíveis, no espaço de seis dias, e tudo muito bom3.

1 João 1:2,3; Hebreus 1:2; Jó 26:13
2 Romanos 1:20
3 Colossenses 1:16; Gênesis 1:31

2. Após Deus haver feito todas as outras criaturas, Ele criou o homem, macho e fêmea4, com almas racionais e imortais5, os adequou perfeitamente à vida para Deus, para o que eles foram criados, tendo sido feitos segundo a imagem de Deus, em conhecimento, retidão e verdadeira santidade6; tendo a lei de Deus escrita em seus corações7, e poder para cumpri-la; e ainda assim sob a possibilidade de transgressão, sendo deixados à liberdade da sua própria vontade, que era sujeita à mudança8.

4 Gênesis 1:27
5 Gênesis 2:7
6 Eclesiastes 7:29; Gênesis 1;26
7 Romanos 2:14,15
8 Gênesis 3:6

3. Além dessa lei escrita em seus corações, eles receberam a ordem de não comer da árvore do conhecimento do bem e do mal9; de forma que enquanto eles obedeceram a este preceito foram felizes em sua comunhão com Deus e tiveram domínio sobre as criaturas10.

9 Gênesis 2:17
10 Gênesis 1:26,28


Capítulo V: Da Divina Providência

1. Deus, o grande Criador de todas as coisas, em Seu infinito poder e sabedoria, dirige, dispõe e governa todas as criaturas1, e coisas, desde a maior até a menor2, por Sua mui sábia e santa providência, para o fim pelo qual foram criadas, segundo a Sua infalível presciência, e o livre e imutável conselho de Sua própria vontade, para o louvor da glória de Sua sabedoria, poder, justiça, infinita bondade e misericórdia3.

1 Hebreus 1:3; Jó 38:11; Isaías 46:10,11; Salmos135:6
2 Mateus 10:29-31
3 Efésios 1;11

2. Embora em relação à presciência e ao decreto de Deus, a causa primeira, todas as coisas acontecem imutável e infalivelmente4, de forma que nada acontece de algum modo por mudança, ou sem a Sua providência5; contudo, pela mesma providência, Ele ordena que elas aconteçam de acordo com a natureza das causas secundárias, seja necessária, livre ou contingentemente6.

4 Atos 2:23
5 Provérbios 16:33
6 Gênesis 8:22

3. Deus, em Sua providência ordinária, faz o uso de meios7, ainda assim, é livre para operar sem8, acima9 e contra eles10, como Lhe agrade.

7 Atos 27:31, 44; Isaías 55:10, 11
8 Oséias 1:7
9 Romanos 4:19-21
10 Daniel 3:27

4. A onipotência, a sabedoria inescrutável e a infinita bondade de Deus, tanto manifestam-se em Sua providência, na qual Seu conselho determinado se estende mesmo até a primeira Queda, e todos as outras ações pecaminosas tanto de anjos e homens11; e não por meio de mera permissão, os quais Ele também, mui sábia e poderosamente delimita, e de forma variada ordena e governa12 em uma multiforme dispensação, para os Seus próprios santos fins13; ainda assim, de forma que a pecaminosidade de seus atos procede da criatura, e não de Deus; que sendo santíssimo e justíssimo, não é, nem pode ser o autor ou aprovador do pecado14.

11 Romanos 11:32-34; 2 Samuel 24:1; 1 Crônicas 21:1
12 2 Reis 19:28; Salmos76:10
13 Gênesis 1:20; Isaías 10:6,7,12
14 Salmos 1;21; 1 João 2:16

5. O Deus mui sábio, justo e gracioso, frequentemente deixa, por algum tempo, Seus próprios filhos em múltiplas tentações e corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e engano de seus corações, para que eles sejam humilhados; e elevá-los a uma dependência mais íntima e constante por Seu próprio apoio, e para torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecado, e para outros santos e justos fins15. De forma que seja o que for que ocorra com todos os Seus eleitos é por Sua designação, para a Sua glória e para o bem deles16.

15 2 Crônicas 32:25,26,31; 2 Coríntios 12:7-9
16 Romanos 8:28

6. Quanto aos perversos e ímpios, a quem Deus, como o justo juiz, por pecados anteriores, cega e endurece17; deles, Ele não apenas retém a Sua graça, pela qual eles poderiam ser iluminados em seus entendimentos e forjados em seus corações18; mas às vezes também lhes retira os dons que eles tinham19; e os expõe a objetos de forma que a corrupção deles se torna em ocasiões de pecado20; e, além disso, entrega-lhes às suas próprias concupiscências, às tentações do mundo e ao poder de Satanás21; segundo o que ocorre que eles se endurecem, sob aqueles meios que Deus usa para abrandar dos outros22.

17 Romanos 1;24-26,28, 11:7,8
18 Deuteronômio 29:4
19 Mateus 13:12
20 Deuteronômio 2:30; 2 Reis 8:12,13
21 Salmos 81:11,12; 2 Tessalonicenses 2:10-12
22 Êxodo 8:15,32; Isaías 6:9,10; 1 Pedro 2:7,8

7. Como a providência de Deus, em geral, atinge todas as criaturas, assim, de uma forma mui especial, Ele cuida de Sua Igreja, e dispõe de todas as coisas para o bem dela23.

23 1 Timóteo 4:10; Amós 9:8,9; Isaías 43:3-5


Capítulo VI: Da Queda do Homem, do Pecado, e do seu Castigo

1. Embora Deus tenha criado o homem justo e perfeito, e lhe deu uma lei justa, que tinha sido para a vida se tivesse a guardado, ou para morte, se a desobedecesse1. Mesmo assim o homem não manteve por muito tempo a sua honra. Satanás valeu-se da astúcia da serpente para seduzir Eva, em seguida, esta seduziu a Adão, que, sem qualquer compulsão, deliberadamente transgrediram a lei de sua criação, e a ordem, dada e eles, de não comer o fruto proibido2, do que foi Deus servido permitir este pecado deles, de acordo com seu conselho sábio e santo, a fim de permitir este pecado deles, havendo determinado ordená-lo para a sua própria glória.

1 Gênesis 2:16,17
2 Gênesis 3:12,13; 2 Coríntios 11:3

2. Nossos primeiros pais, por seus pecados, decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, e nós neles, e por isso a morte veio sobre todos3: todos se tornaram mortos no pecado4 e inteiramente corrompidos em todas as faculdades e partes da alma e do corpo5.

3 Romanos 3:23
4 Romanos 5:12, etc.
5 Tito 1:15; Gênesis 6:5; Jeremias 17:9; Romanos 3:10-19

3. Sendo eles os ancestrais e, pelo desígnio de Deus, os representantes de toda humanidade, a culpa do pecado foi imputada a toda a sua posteridade, e a corrupção natural passou a todos os seus descendentes que deles procede por geração ordinária6. Sendo estes agora concebidos em pecado7, e por natureza filhos da ira8, escravos do pecado, sujeitos à morte9 e a todas as outras misérias, espirituais, temporais e eternas, a menos que o Senhor Jesus os liberte10.

6 Romanos 5:12-19; 1 Coríntios 15:21,22,45,49
7 Salmos51:5; Jó 14:4
8 Efésios 2:3
9 Romanos 6:20, 5:12
10 Hebreus 2:14,15; 1 Tessalonicenses 1:10

4. Desta corrupção original pela qual ficamos totalmente indispostos, adversos a todo o bem e inteiramente inclinados a todo o mal11, é que procedem todas as transgressões atuais12.

11 Romanos 8:7; Colossenses 1:21
12 Tiago 1:14,15; Mateus 15:19

5. A corrupção da natureza, durante esta vida, persiste naqueles que são regenerados13; e, embora, ela seja, através de Cristo, perdoada e mortificada, todavia tanto ela mesma como seus primeiros impulsos, são verdadeira e propriamente pecado14.

13 Romanos 7:18,23; Eclesiastes 7:20; 1 João 1:8
14 Romanos 7:23-25; Gálatas 5:17


Capítulo VII: Da Aliança de Deus

1. A distância entre Deus e a criatura é tão grande, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam ter alcançado a recompensa da vida, senão por alguma condescendência voluntária da parte de Deus, que Ele Se agrada em expressar por meio de aliança1.

1 Lucas 17:10; Jó 35:7,8

2. Ademais, tendo o homem trazido a si mesmo sob a maldição da lei, por sua queda, aprouve ao Senhor fazer um pacto da graça2, no qual Ele oferece livremente aos pecadores a vida e a salvação por meio de Jesus Cristo, exigindo deles a fé nEle, para que eles sejam salvos3; e prometendo dar a todos os que são ordenados para a vida eterna, o Seu Espírito Santo, para torná-los dispostos e capazes de crer4.

2 Gênesis 2:17; Gálatas 3:10; Romanos 3:20,21
3 Romanos 8:3; Marcos 16:15,16; João 3:16;
4 Ezequiel 36:26,27; João 6:44,45; Salmos110:3

3. Esta aliança é revelada no evangelho; primeiramente a Adão na promessa de salvação pela semente da mulher5, e depois por passos adicionais, até a desvelamento plena da mesma consumada no Novo Testamento6; e é fundada naquela transação da eterna aliança que havia entre o Pai e o Filho para a redenção dos eleitos7; e é somente pela graça desta aliança que todos da caída posteridade de Adão que já foram salvos obtiveram a vida e a bem-aventurada imortalidade, o homem sendo agora totalmente incapaz de aceitação por Deus naqueles termos em que Adão permanecia em seu estado de inocência8.

5 Gênesis 3:15
6 Hebreus 1:1
7 2 Timóteo 1:9; Tito 1:2
8 Hebreus 11;6,13; Romanos 4:1,2, e etc.; Atos 4:12; João 8:56


Capítulo VIII: De Cristo, o Mediador

1. Aprouve a Deus, em seu eterno propósito, e de acordo com o pacto estabelecido entre ambos, escolher e ordenar o Senhor Jesus, seu Filho unigênito, para ser o Mediador entre Deus e os homens1, o profeta2, sacerdote3 e rei4; a cabeça e Salvador da Igreja5, o herdeiro de todas as coisas6, e juiz do mundo7; a quem, desde toda a eternidade, deu um povo para ser sua semente e para ser por ele no tempo remido, chamado, justificado, santificado e glorificado8.

1 Isaías 42:1; 1 Pedro 1:19,20
2 Atos 3:22
3 Hebreus 5:5,6
4 Salmos2:6; Lucas 1:33
5 Efésios 1:22,23
6 Hebreus 1:2
7 Atos 17:31
8 Isaías 53:10; João 17:6; Romanos 8:30

2. O Filho de Deus, a segunda pessoa da Santa Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, o resplendor da glória do Pai, da mesma substância e igual com Aquele que criou o mundo, quem sustenta e governa todas as coisas que Ele fez, quando chegou a plenitude dos tempos, tomou sobre si a natureza humana, com todas as propriedades essenciais e enfermidades comuns9; embora sem pecado10: foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria, o Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu; e assim foi feito de uma mulher da tribo de Judá, da descendência de Abraão e Davi, segundo as Escrituras11; para que duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas, fossem inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão. Esta pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mas um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem12.

9 João 1:14; Gálatas 4;4
10 Romanos 8:3; Hebreus 2:14,16,17, 4:15
11 Mateus 1:22, 23
12 Lucas 1:27,31,35; Romanos 9:5; 1 Timóteo 2:5

3. O Senhor Jesus em sua natureza humana assim unida à divina na Pessoa do Filho, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sobremaneira13; tendo em si todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento14, em quem aprouve a Deus que toda a plenitude habitasse15: a fim de que sendo santo, inocente, imaculado16, e cheio de graça e de verdade17, ele pudesse estar plenamente qualificado para exercer o ofício de um Mediador e Fiador18. Este ofício ele não tomou para si, mas para este foi chamado por seu Pai19; que colocou todo o poder e juízo em sua mão, e lhe ordenou que os exercesse20.

13 Salmos45:7; Atos 10:38; João 3:34
14 Colossenses 2:3
15 Colossenses 1:19
16 Hebreus 7:26
17 João 1:14
18 Hebreus 7:22
19 Hebreus 5:5
20 João 5:22,27; Mateus 28:18; Atos 2;36

4. Este ofício o Senhor Jesus empreendeu mui voluntariamente21, Para que pudesse exercê-lo, foi feito sujeito à lei22, que ele cumpriu perfeitamente e suportou o castigo que a nós era devido, que nós deveríamos ter recebido e sofrido23. E foi feito pecado e maldição, por nossa causa24, suportando as mais cruéis aflições em sua alma e os sofrimentos mais dolorosos em seu corpo25; foi crucificado e morreu; e ficou em estado de morte, mas não viu a corrupção26. No terceiro dia ele ressuscitou dos mortos27, com o mesmo corpo no qual ele sofreu28; com o qual também ele subiu ao céu29, e lá está assentado à destra do Pai, fazendo intercessão30; e voltará para julgar homens e anjos, no fim do mundo31.

21 Salmos40:7,8; Hebreus 10:5-10; João 10:18
22 Gal 4:4; Mateus 3:15
23 Gálatas 3:13; Isaías 53:6; 1 Pedro 3:18
24 2 Coríntios 5:21
25 Mateus 26:37,38; Lucas 22:44; Mateus 27:46
26 Atos 13:37
27 1 Coríntios 15:3,4
28 João 20:25,27
29 Marcos 16:19; Atos 1:9-11
30 Romanos 8:34; Hebreus 9:24
31 Atos 10:42; Romanos 14:9,10; Atos 1:11; 2 Pedro 2:4

5. O Senhor Jesus, pela sua perfeita obediência e sacrifício de si mesmo, que ele, pelo Espírito eterno, uma vez ofereceu a Deus, satisfez plenamente a justiça de Deus32; obteve a reconciliação e adquiriu uma herança eterna no reino dos céus, para todos quantos foram dados a Ele pelo Pai33.

32 Hebreus 9:14, 10:14; Romanos 3:25,26
33 João 17:2; Hebreus 9:15

6. Embora o preço da redenção não tenha sido realmente pago por Cristo senão depois da Sua encarnação, contudo a virtude, a eficácia e os benefícios dela foram comunicados aos eleitos, em todas as épocas sucessivamente desde o princípio do mundo, nas – e através das – promessas, tipos e sacrifícios em que Cristo foi revelado, e que o apontavam como semente que esmagaria a cabeça da serpente34, e ao Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo35, sendo o mesmo ontem e hoje e para sempre36.

34 1 Coríntios 4:10; Hebreus 4:2; 1 Pedro 1:10, 11
35 Apocalipse 13:8
36 Hebreus 13:8

7. Cristo, na obra da mediação, age de acordo com ambas as naturezas; cada uma delas atuando como lhe é próprio. Mesmo assim, em razão da unidade da pessoa, aquilo que é próprio de uma natureza às vezes, na Escritura, é atribuído à pessoa de Cristo denominada pela outra natureza37.

37 João 3:13; Atos 20:28

8. Cristo certamente aplica e comunica eficazmente a redenção eterna, para todos quantos Ele a obteve: fazendo intercessão por eles38; unindo-os a Si mesmo por Seu Espírito; revelando-lhes, na e pela sua Palavra, o mistério da salvação, persuadindo-os a crer e obedecer39, governando seus corações pelo seu Espírito40 e por sua Palavra, e vencendo todos os inimigos deles, por sua onipotência e sabedoria41, da maneira e pelos meios mais conformes com a sua admirável e inescrutável dispensação; e tudo isso livre e absoluta graça, sem a precondição de neles ter sido vista de antemão uma busca pela redenção42.

38 João 6:37, 10:15,16, 17:9; Romanos 5:10
39 João 17:6; Efésios 1:9; 1 João 5:20
40 Romanos 8:9,14
41 Salmos 110:1; 1 Coríntios 15:25,26
42 João 3:8; Efésios 1:8

9. Este ofício de mediador entre Deus e os homens cabe exclusivamente a Cristo, que é o profeta, sacerdote e rei da Igreja de Deus; e isto não pode ser no todo, ou qualquer parte, transferido de Cristo para qualquer outro43.

43 1 Timóteo 2:5

10. Este número e ordem de ofícios são necessários. Precisamos de Seu ofício profético44, por causa de nossa ignorância. Por causa de nossa alienação de Deus, e da imperfeição de nossos melhores serviços, nós necessitamos de Seu ofício sacerdotal para nos reconciliar e apresentar aceitáveis a Deus45; e no que diz respeito à nossa aversão e incapacidade absoluta de converter-nos a Deus, e para o nosso resgate e segurança, contra nossos adversários espirituais, precisamos de Seu ofício de rei para nos convencer, subjugar, atrair, sustentar, libertar e preservar para o seu reino celestial46.

44 João 1:18
45 Colossenses 1:21; Gálatas 5:17
46 João 16:8; Salmos 110:3; Lucas 1:74,75


Capítulo IX: Do Livre-Arbítrio

1. Deus dotou a vontade do homem com tal liberdade natural e poder de ação em escolha, que ela não é nem forçada, nem determinada para o bem ou o mal por qualquer necessidade da natureza1.

1 Mateus 17:12; Tiago 1:14; Deuteronômio 30:19

2. O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus2; mas ainda assim, era instável, de forma que ele podia cair deste [estado]3.

2 Eclesiastes 7:29
3 Gênesis 3:6

3. O homem, por meio de sua queda em um estado de pecado, perdeu completamente todo o poder da vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação4; assim como um homem natural, inteiramente adverso a esse bem e morto em pecado5, não é capaz, por sua própria força, de converter-se ou preparar-se para isso6.

4 Romanos 5:6, 8:7
5 Efésios 2:1,5
6 Tito 3:3-5; João 6:44

4. Quando Deus converte um pecador e o transporta para o estado de graça, Ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado7 e, por Sua graça, o habilita a livremente querer e fazer aquilo que é espiritualmente bom8; ainda assim, de modo que, em razão de sua corrupção remanescente, ele não o faz perfeitamente, nem apenas deseja o que é bom, mas também o que é mau9.

7 Colossenses 1:13; João 8:36
8 Filipenses 2:13
9 Romanos 7:15,18,19,21,23

5. A vontade do homem é feita imutável e perfeitamente livre para o bem somente, apenas no estado de glória10.

10 Efésios 4:13


Capítulo X: Do Chamado Eficaz

1. Aqueles a quem Deus predestinou para a vida, a Ele apraz, em Seu tempo determinado e aceitável, chamar eficazmente1, por sua Palavra e pelo Seu Espírito, do estado natural de pecado e morte, para a graça e a salvação por Jesus Cristo2, isto Ele faz, iluminando suas mentes de maneira espiritual e salvífica, para entender as coisas de Deus3, tirando-lhes o coração de pedra e dando-lhes um coração de carne4; renovando as suas vontades, predispondo-os para o bem e trazendo-os irresistivelmente para Jesus Cristo5; no, entanto eles vêm a Cristo mui livremente, sendo para isso dispostos pela Sua graça6.

1 Romanos 8:30, 11:7; Efésios 1:10,11; 2 Tessalonicenses 2:13,14
2 Efésios 2:1-6
3 Atos 26:18; Efésios 1:17,18
4 Ezequiel 36:26
5 Deuteronômio 30:6; Ezequiel 36:27; Efésios 1:19
6 Salmos110:3; Cant. 1:4

2. Esta chamada eficaz é por livre e especial graça de Deus e não provem de qualquer coisa prevista no homem, e nem de poder algum ou agência da criatura7, esta se mantém totalmente passiva, estando morta em pecados e transgressões, até que, sendo vivificada e renovada pelo Espírito Santo8, fica habilitada a corresponder a ela, e a receber a graça oferecida e comunicada nela. Para isso é necessário um poder que de modo nenhum é menor do que aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos9.

7 2 Timóteo 1:9; Efésios 2:8
8 1 Coríntios 2:14; Efésios 2:5; João 5:25
9 Efésios 1:19, 20

3. As crianças eleitas que morrem na infância são regeneradas e salvas por Cristo, através do Espírito10, que opera quando, onde e como Lhe agrada11. Do mesmo modo são salvas todas as pessoas eleitas incapazes de serem chamadas exteriormente, pelo ministério da Palavra.

10 João 3:3, 5, 6
11 João 3:8

4. Outros não eleitos, embora possam ser chamados pelo ministério da Palavra, e tenham algumas das operações comuns do Espírito12, contudo não sendo eficazmente atraídos pelo Pai, eles nem querem e nem podem verdadeiramente vir a Cristo e, portanto, não podem ser salvos13; muito menos poderão ser salvos os que não seguem a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar suas vidas à luz da natureza e aos ensinamentos da religião que professam14.

12 Mateus 22:14, 13:20,21; Hebreus 6:4,5
13 João 6:44,45,65; 1 João 2:24,25
14 Atos 4:12; João 4:22, 17:3


Capítulo XI: Da Justificação

1. Aqueles a quem Deus chama eficazmente, Ele também livremente justifica1: não por meio da infusão de justiça para eles, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justos2; não por qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas somente por causa de Cristo3; não lhes imputando como sua justiça a própria fé, o ato de crer, ou qualquer outra obediência evangélica, mas pela imputação da obediência ativa de Cristo a toda a lei, e obediência passiva em Sua morte por sua completa e única justiça pela fé4; fé esta que eles não têm de si mesmos, esta é um dom de Deus5.

1 Romanos 3:24, 8:30
2 Romanos 4:5-8, Efésios 1:7
3 1 Coríntios 1:30,31, Romanos 5:17-19
4 Filipenses 3:8,9; Efésios 2:8-10
5 João 1:12, Romanos 5:17

2. A Fé, assim recebendo e descansando em Cristo e Sua justiça, é o único instrumento de justificação6; ainda assim, não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre anda acompanhada de todas as outras graças salvadoras, e não é uma fé morta, mas opera pelo amor7.

6 Romanos 3:28
7 Gálatas 5:6, Tiago 2:17,22,26

3. Cristo, por Sua obediência e morte, pagou plenamente a dívida de todos os que são assim justificados, e pelo sacrifício de Si mesmo, no sangue de Sua cruz, sujeitando-se no lugar deles à penalidade a eles devida, fez uma satisfação apropriada, real e plena à justiça de Deus em nome deles8. No entanto, na medida em que Ele foi dado pelo Pai para eles, e Sua obediência e satisfação aceitos em seu lugar, e ambos livremente, não por qualquer coisa neles9, a sua justificação é apenas de livre graça, de forma que tanto a exata justiça e rica graça de Deus sejam glorificadas na justificação dos pecadores10.

8 Hebreus 10:14; 1 Pedro 1:18,19; Isaías 53:5,6
9 Romanos 8:32; 2 Coríntios 5:21
10 Romanos 3:26; Efésios 1:6,7, 2:7

4. Deus, desde toda a eternidade, decretou justificar todos os eleitos11; e Cristo, na plenitude do tempo, morreu pelos seus pecados e ressuscitou para a justificação deles12; no entanto, eles não são justificados pessoalmente, até que o Espírito Santo, em devido tempo, efetivamente, aplica-lhes a Cristo13.

11 Gálatas 3:8, 1 Pedro 1:2, 1 Timóteo 2:6
12 Romanos 4:25
13 Colossenses 1:21,22, Tito 3:4-7

5. Deus continua a perdoar os pecados daqueles que são justificados14; e embora eles nunca possam cair do estado de justificação15, contudo eles podem, por seus pecados, cair no desagrado paternal de Deus16, e nesta condição eles usualmente não têm a luz de Sua face restaurada a eles, até que se humilhem, confessem seus pecados, peçam perdão e renovem sua fé e arrependimento17.

14 Mateus 6:12, 1 João 1:7,9
15 João 10:28
16 Salmos 89:31-33
17 Salmos 32:5, Salmos 51, Mateus 26:75

6. A justificação dos crentes sob o Velho Testamento era, em todos estes aspectos, uma e a mesma com a justificação dos crentes sob o Novo Testamento18.

18 Gálatas 3:9; Romanos 4:22-24


Capítulo XII: Da Adoção

1. A todos quantos são justificados em Seu único Filho, Jesus Cristo, e, por causa dEle, Deus é servido fazer participantes da graça da adoção1, por esta graça eles são recebidos no número dos filhos de Deus2 e gozam a liberdade e privilégios de filhos de Deus3; Recebem sobre si o nome de Deus; recebem o Espírito de adoção4; têm acesso ao trono da graça com confiança; são habilitados a clamar: “Aba, Pai”5; são tratados com compaixão6, protegidos7, providos8 e por ele corrigidos, como por um Pai9; porém, jamais são lançados fora10, pois estão selados para o dia da redenção11. E herdam as promessas, na qualidade de herdeiros da salvação eterna12.

1 Efésios 1:5; Gálatas 4:4,5
2 João 1:12; Romanos 8:17
3 2 Coríntios 6:18; Apocalipse 3:12
4 Romanos 8:15
5 Gálatas 4:6; Efésios 2:18
6 Salmos 103:13
7 Provérbios 14:26; 1 Pedro 5:7
8 Hebreus 12:6
9 Isaías 54:8, 9
10 Lamentações 3:31
11 Efésios 4:30
12 Hebreus 1:14, 6:12


Capítulo XIII: Da Santificação

1. Aqueles que são unidos a Cristo, eficazmente chamados e regenerados, tendo um novo coração e um novo espírito criados neles, através da virtude da morte e ressurreição de Cristo, são mais santificados real e pessoalmente1 por meio da mesma virtude, pela Sua Palavra e Espírito que habita neles2; o domínio de todo o corpo do pecado é destruído3, e as várias concupiscências são cada vez mais enfraquecidas e mortificadas4, e eles mais e mais vivificados e fortalecidos, em todas as graças salvadoras5, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor6.

1 Atos 20:32; Romanos 6:5,6
2 João 17:17; Efésios 3:16-19; 1 Tessalonicenses 5:21-23
3 Romanos 6:14
4 Gálatas 5:24
5 Colossenses 1:11
6 2 Coríntios 7:1; Hebreus 12:14

2. Esta santificação é no homem todo7, ainda que imperfeita nesta vida: ainda permanecem alguns resíduos de corrupção em todas as partes8, de onde nasce uma guerra contínua e irreconciliável, a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne9.

7 1 Tessalonicenses 5:23
8 Romanos 7:18, 23
9 Gálatas 5:17; 1 Pedro 2:11

3. Nesta guerra, embora a corrupção remanescente por um tempo possa mui prevalecer10, ainda assim, através do suprimento contínuo de força do Espírito santificador de Cristo, a parte regenerada superar11, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus, esforçando-se por uma vida celestial, em obediência evangélica a todos os mandamentos que Cristo, como Cabeça e Rei, em Sua Palavra prescreve a eles12.

10 Romanos 7:23
11 Romanos 6:14
12 Efésios 4:15,16; 2 Coríntios 3:18, 7:1


Capítulo XIV: Da Fé Salvadora

1. A graça da fé, pela qual os eleitos são habilitados a crer para a salvação de suas almas, é a obra do Espírito de Cristo em seus corações1, e é ordinariamente operada pelo ministério da Palavra2; pelo que também, e pela administração do batismo e da Ceia do Senhor, pela oração, e por outros meios prescritos por Deus, é aumentada e fortalecida3.

1 2 Coríntios 4:13; Efésios 2:8
2 Romanos 10:14,17
3 Lucas 17:5; 1 Pedro 2:2; Atos 20:32

2. Por esta fé, o cristão crê ser verdade tudo quanto é revelado na Palavra, segundo a autoridade do próprio Deus4, e também apreende a uma excelência nela acima de todos os outros escritos e todas as demais coisas do mundo5 – por ela demonstrar a glória de Deus em Seus atributos, a excelência de Cristo em sua natureza e ofícios, e o poder e a plenitude do Espírito Santo em suas obras e operações. Reconhecendo tudo isso, o cristão é capacitado a confiar sua alma irrestritamente à verdade assim crida6; e também e age em conformidade com aquilo que cada passagem contém em particular, prestando obediência aos mandamentos7, tremendo diante das ameaças8 e abraçando as promessas de Deus para esta vida, e para a que está por vir9. Mas os principais atos de fé salvadora possuem relação imediata com Cristo: aceitar, receber e confiar exclusivamente nEle para a justificação, santificação e a vida eterna, em virtude do pacto da graça10.

4 Atos 24:14
5 Salmos19:7-10, 69:72
6 2 Timóteo 1:12
7 João 15:14
8 Isaías 116:2
9 Hebreus 11:13
10 João 1:12; Atos 16:31; Gálatas 2:20; Atos 15:11

3. Esta fé, embora possa ser diferente em graus, e possa ser fraca ou forte11. No entanto, assim como as demais graças salvadoras, e mesmo se for pequeníssima, ela é de um tipo e de uma natureza diferentes daquela fé e da graça comum que os seguidores professos possuem12. Por isso, mesmo que seja muitas vezes atacada e enfraquecida, ainda assim, sempre alcança a vitória13; crescendo em muitos para uma plena segurança por meio de Cristo14, que é o autor e também o consumador da nossa fé15.

11 Hebreus 5:13,14; Mateus 6:30; Romanos 4:19,20
12 2 Pedro 1:1
13 Efésios 6:16; 1 João 5:4,5
14 Hebreus 6:11,12; Colossenses 2:2
15 Hebreus 12:2


Capítulo XV: Do Arrependimento para a Vida e Salvação

1. Aqueles eleitos que são convertidos em anos maduros, tendo vivido algum tempo em estado natural, e por isso, servido a diversas concupiscências e prazeres, Deus em seu chamado eficaz concede-lhes o arrependimento para a vida1.

1 Tito 3:2-5

2. Considerando que não haja ninguém que faça o bem e não peque2, e o melhor dos homens pode, através do poder e sedução de sua corrupção habitando nele, com a prevalência das tentações, cair em grandes pecados e provocações; Deus tem, no pacto da graça, providenciado misericordiosamente que os crentes que assim pecaram e caíram, sejam renovados através do arrependimento para a salvação3.

2 Eclesiastes 7:20
3 Lucas 22:31,32

3. Este arrependimento salvífico é uma graça evangélica4, pelo qual uma pessoa, sendo pelo Espírito Santo feita sensível aos múltiplos males do seu pecado, pela fé em Cristo, humilha-se por isso com a tristeza segundo Deus, ódio disso, e auto-aborrecimento5, orando por perdão e pela força da graça, com um propósito e esforço, por suprimentos do Espírito, para andar diante de Deus agradando-lhe em todas as coisas6.

4 Zacarias 12:10; Atos 11:18
5 Ezequiel 36:31; 2 Coríntios 7:11
6 Salmos119:6,128

4. Como o arrependimento deve continuar por todo o curso de nossas vidas, em consideração ao corpo da morte, e as ações do mesmo, por isso, é dever de todo homem arrepender-se de seus pecados particulares e conhecidos, individualmente7.

7 Lucas 19:8; 1 Timóteo 1:13,15

5. Tal é a provisão que Deus tem feito por Cristo, no pacto da graça para a preservação dos crentes para a salvação; que, embora não haja pecado tão pequeno que não mereça a condenação8; ainda não há pecado tão grande que possa trazer condenação sobre aqueles que verdadeiramente se arrependem9; o que torna a constante pregação sobre o arrependimento necessária.

8 Romanos 6:23
9 Isaías 1:16-18, 55:7


Capítulo XVI: Das Boas obras

1. Boas obras são somente aquelas que Deus ordenou em sua santa Palavra¹, e não as que, sem autoridade dela, são elaboradas por homens movidos por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa intenção².

1 Miquéias 6:8; Hebreus 13:21
2 Mateus 15:9; Isaías 29:13

2. Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de uma fé viva e verdadeira3, e por elas os crentes manifestam a sua gratidão4, fortalecem a sua confiança5, edificam os seus irmãos, adornam a profissão do evangelho6, fazem calar os adversários, e glorificam a Deus7, de cuja feitura são, criados em Cristo Jesus para isso mesmo8, a fim de que, tendo o seu fruto para santificação, eles possam ter por fim a vida eterna9.

3 Tiago 2:18,22
4 Salmos116:12,13
5 1 João 2:3,5; 2 Pedro 1:5-11
6 Mateus 5:16
7 1 Timóteo 6:1; 1 Pedro 2:15; Filipenses 1:11
8 Efésios 2:10
9 Romanos 6:22

3. Sua capacidade de fazer boas obras não é de modo algum dos próprios crentes, mas provém totalmente do Espírito de Cristo10. E para que os crentes possam desempenhar as boas obras, é necessária uma influência contínua do mesmo Espírito Santo operando neles tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade11, isso porém não significa que eles devem tornar-se negligentes, como se não tivessem a obrigação de cumprirem um dever senão quando movidos de maneira especial pelo Espírito; antes, eles devem ser diligentes em desenvolver a graça de Deus que neles há12.

10 João 15:4,5
11 2 Coríntios 3:5; Filipenses 2:13
12 Filipenses 2:12; Hebreus 6:11,12; Isaías 64:7

4. Mesmo aqueles que conseguem prestar a maior obediência nesta vida, estão longe de exceder e fazer mais do que é requerido por Deus, pois eles ainda ficam aquém do muito que por dever eles são obrigados a fazer13.

13 Jó 9:2, 3; Gálatas 5:17; Lucas 17:10

5. Nós não podemos, pelas nossas melhores obras, merecer da mão de Deus o perdão do pecado ou a vida eterna, visto ser grande a desproporção que há entre elas e a glória por vir, e a infinita distância que há entre nós e Deus, a quem não podemos ser úteis por meio delas, nem satisfazê-lO pela dívida dos nossos pecados anteriores14; mas quando tivermos feito tudo o que pudermos, temos feito somente o nosso dever, e somos servos inúteis. Se nossas obras são boas elas procedem do Espírito15. Contudo, à medida elas são desempenhadas por nós, essas obras vão sendo contaminadas e misturadas com tanta fraqueza e imperfeição, que não podem suportar a severidade do julgamento de Deus16.

14 Romanos 3:20; Efésios 2:8,9; Romanos 4:6
15 Gálatas 5:22,23
16 Isaías 64:6; Salmos43:2

6. Todavia, desde que os crentes, como pessoas, são aceitos por meio de Cristo, as suas obras também são aceitas nEle17, não como se fossem nesta vida totalmente inculpáveis e irrepreensíveis diante de Deus; antes, significa que ele, olhando para eles em seu Filho, se agrada de aceitar e recompensar aquilo que é sincero, embora realizado com muitas fraquezas e imperfeições18.

17 Efésios 1:5; 1 Pedro 1:5
18 Mateus 25:21,23; Hebreus 6:10

7. As obras feitas por homens não regenerados, embora por si mesmas possam ser coisas que Deus ordena, e proveitosas tanto para a pessoa que as faz quanto para outrem19; contudo, porque não procedem de um coração purificado pela fé20; e de acordo com a Palavra21, nem são feitas de uma maneira correta, nem com a finalidade correta, a glória de Deus22; elas são, portanto, pecaminosas e não podem agradar a Deus, nem tornar uma pessoa apta para receber a graça de Deus23; não obstante, a sua negligência delas seja ainda mais pecaminosa e ofensiva a Deus24.

19 2 Reis 10:30; 1 Reis 21:27,29
20 Gênesis 4:5; Hebreus 11:4,6
21 1 Coríntios 13:1
22 Mateus 6:2,5
23 Amós 5:21,22; Romanos 9:16; Tito 3:5
24 Jó 21:14,15; Mateus 25:41-43


Capítulo XVII: Da Perseverança dos Santos

1. Aqueles a quem Deus aceitou no Amado, eficazmente chamados e santificados pelo seu Espírito, e dada a preciosa fé dos Seus eleitos a eles, não podem nem total, nem finalmente cair do estado de graça, mas certamente perseverarão até o fim, e serão eternamente salvos, considerando que os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento, pelo que Ele os gera e ainda os alimenta em fé, arrependimento, amor, alegria, esperança e todas as graças do Espírito para a imortalidade1; e, apesar de muitas tempestades e inundações surgirem e combaterem contra eles, mas estas nunca poderão tirá-los dessa fundação e rocha, em que pela fé eles estão firmados; não obstante, por causa da incredulidade e das tentações de Satanás, a sensível visão da luz e do amor de Deus podem estar por um tempo nublada e obscurecida para eles2, mas Ele ainda é o mesmo, e eles terão a certeza de estarem guardados pelo poder de Deus para a salvação, onde gozam de sua herança adquirida, eles estão gravados na palma de Suas mãos, e os seus nomes estão escritos no livro da vida desde toda a eternidade3.

1 João 10:28,29; Filipenses 1:6; 2 Timóteo 2:19; 1 João 2:19
2 Salmos89:31,32; 1 Coríntios 11:32
3 Malaquias 3:6

2. Esta perseverança dos santos depende, não do seu próprio livre-arbítrio, mas da imutabilidade do decreto da eleição4, que flui a partir do livre e imutável amor de Deus o Pai; sobre a eficácia do mérito e intercessão de Jesus Cristo; e da união com Ele5; da promessa de Deus6; da permanência de Seu Espírito e da semente de Deus dentro deles7; e da natureza do pacto da graça8; de todas estas coisas vêm a sua certeza e infalibilidade.

4 Romanos 8:30, 9:11,16
5 Romanos 5:9, 10; João 14:19
6 Hebreus 6:17,18
7 1 João 3:9
8 Jeremias 32:40

3. E embora, eles possam, através das tentações de Satanás e do mundo, a prevalência de corrupção remanescente neles, e a negligência dos meios de sua preservação, cair em pecados graves; e por algum tempo continuar neles9: em que eles incorrem no desagrado de Deus, e entristecem o Seu Espírito Santo10; vindo a ter suas graças e consolos enfraquecidos11; têm os seus corações endurecidos e as suas consciências feridas12; prejudicam e escandalizam os outros e atraem sobre si juízos temporais13; ainda assim, eles renovarão o seu arrependimento e são preservados pela fé em Jesus Cristo até o fim14.

9 Mateus 26:70,72,74
10 Isaías 64:5,9; Efésios 4:30
11 Salmos 51:10,12
12 Salmos 32:3,4
13 2 Samuel 12:14
14 Lucas 22:32,61,62


Capítulo XVIII: Da Certeza da Graça e da Salvação

1. Embora os temporariamente crentes, e outros homens não regenerados, possam em vão iludir-se com falsas esperanças e presunções carnais de se acharem no favor de Deus e em estado de salvação; esta esperança deles perecerá1, mas quanto aos que verdadeiramente creem no Senhor Jesus, e o amam com sinceridade, procurando andar em toda a boa consciência diante dele, podem, nesta vida, certificar-se de que eles estão em um estado de graça, e podem regozijar-se na esperança da glória de Deus2, esta esperança jamais os envergonhará3.

1 Jó 8:13,14; Mateus 7:22,23
2 1 João 2:3, 3:14,18,19,21,24, 5:13
3 Romanos 5:2,5

2. Esta certeza não é uma mera conjectural e provável, baseada em uma esperança falível; mas uma infalível segurança de fé4, fundada no sangue e justiça de Cristo revelados no Evangelho5, bem como na evidência interna daquelas graças em que as promessas são feitas6, e no testemunho do Espírito de adoção que testifica com os nossos espíritos que somos filhos de Deus7, e como fruto disso, mantendo o nosso coração humilde e santo8.

4 Hebreus 6:11,19
5 Hebreus 6:17,18
6 2 Pedro 1:4,5,10,11
7 Romanos 8:15,16
8 1 João 3:1-3

3. Esta segurança infalível não pertence de tal modo à essência da fé, que um verdadeiro crente, antes de possuí-la, não tenha de esperar muito e lutar com muitas dificuldades9: contudo sendo habilitado pelo Espírito a conhecer as coisas que lhe são livremente dadas por Deus, ele pode alcança-la, sem revelação extraordinária, no uso correto dos meios10. E, portanto, é dever de todos empregar toda a diligência para fazer firme a sua vocação e eleição; A fim de que por esse modo, o seu coração possa dilatar-se em paz e gozo no Espírito Santo, em amor e gratidão a Deus, e em força e alegria nos deveres de obediência, estes são os frutos próprios desta segurança11, a qual está longe de inclinar os homens para o relaxamento12.

9 Isaías 50:10; Salmos 88; Salmos 77:1-12
10 1 João 4:13; Hebreus 6:11,12
11 Romanos 5:1,2,5, 14:17; Salmos 119:32
12 Romanos 6:1,2; Tito 2:11,12,14

4. Os verdadeiros crentes podem ter a certeza da sua salvação abalada de diversas maneiras, diminuída e interrompida; por negligência na preservação da mesma13; caindo em algum pecado especial que fira a consciência e entristeça o Espírito Santo14; por ceder a alguma tentação súbita ou veemente15; por Deus retirar de sobre eles a luz da sua presença, e permitindo que mesmo os que O temem caminhem em trevas, que não tenham luz16. Contudo, eles nunca ficam destituídos da semente de Deus17 e da vida da fé18, daquele amor a Cristo e aos irmãos, daquela sinceridade de coração e consciência de dever. É a partir destas graças, pela operação do Espírito, que a certeza da salvação pode ser revivificada19, no devido tempo; e, mediante elas, os crentes são preservados para não caírem em um desespero total20.

13 Cantares 5:2,3,6
14 Salmos 51:8,12,14
15 Salmos 116:11; 77:7,8, 31:22
16 Salmos 30:7
17 1 João 3:9
18 Lucas 22:32
19 Salmos 42:5,11
20 Lamentações 3:26-31


Capítulo XIX: Da Lei de Deus

1. Deus deu a Adão uma lei de obediência universal escrita em seu coração, e um particular preceito de não comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal1, pelo qual Ele vinculou a ele e a toda sua posteridade, para pessoal, inteira, exata e perpétua obediência2; prometeu vida sobre o cumprimento, e ameaçou com a morte a violação da mesma; e o dotou com o poder e a capacidade para guarda-la3.

1 Gênesis 1:27; Eclesiastes 7:29
2 Romanos 10:5
3 Gálatas 3:10,12

2. A mesma lei que primeiramente foi escrita no coração do homem, continuou a ser uma regra perfeita de justiça após a queda4; e foi entregue por Deus no monte Sinai em dez mandamentos e escrita em duas tábuas; os quatro primeiros mandamentos contêm o nosso dever para com Deus, e os outros seis, nosso dever para com o homem5.

4 Romanos 2:14,15
5 Deuteronômio 10:4

3. Além desta lei, comumente chamada de moral, Deus Se agradou em dar ao povo de Israel leis cerimoniais, contendo diversas ordenanças típicas, em parte, de adoração, prefigurando Cristo, Suas graças, ações, sofrimentos, e benefícios6; e, em parte, segurando estabelecendo várias instruções de deveres morais7. Todas as leis cerimoniais, sendo impostas apenas até o tempo da reformação, são por Jesus Cristo, o Messias e único Legislador, que foi dotado com o poder da parte do Pai para este fim, cumpridas e revogadas8.

6 Hebreus 10:1; Colossenses 2:17
7 1 Coríntios 5:7
8 Colossenses 2:14,16,17; Efésios 2:14,16

4. Para eles, Ele também deu várias leis civis, que expiraram com a nação daquele povo, não obrigando a ninguém em virtude daquela instituição, somente sua equidade geral possui um valor moral9.

9 1 Coríntios 9:8-10

5. A lei moral obriga para sempre a todos, tanto pessoas justificadas como as demais, à obediência da mesma10; e isso não apenas no que diz respeito à matéria nela contida, mas também no que diz respeito à autoridade de Deus, o Criador, que a deu11. Nem o Cristo no Evangelho de forma alguma a abroga, mas confirma esta obrigação12.

10 Romanos 13:8-10; Tiago 2:8,10-12
11 Tiago 2:10,11
12 Mateus 5:17-19; Romanos 3:31

6. Embora os verdadeiros crentes não estejam sob a lei como um pacto de obras, para serem por ela justificados ou condenados13; ainda é de grande utilidade para eles, assim como para os outros; em que, como uma regra de vida, informando-os sobre a vontade de Deus e de seu dever, ela dirige e os obriga a andar em conformidade; descobrindo também as contaminações pecaminosas de sua natureza, corações e vidas; assim como, examinando-se assim, eles podem chegar a mais convicção, humilhação por e ódio contra o pecado14; juntamente com uma visão mais clara da necessidade que têm de Cristo e da perfeição da Sua obediência. Ela é, semelhantemente útil para os regenerados, para conter as suas corrupções, pois proíbe o pecado, e as ameaças daquela servem para mostrar até mesmo o que os seus pecados merecem, e que aflições nesta vida podem esperar por eles, embora libertados da maldição e do rigor intransigente da lei. Igualmente, as promessas da lei demonstram a aprovação de Deus à obediência e quais bênçãos os homens podem esperar receber se cumprirem a lei; embora não lhes sejam devidas pela lei como um pacto de obras: assim como um homem faz o bem e evita o mal, porque a lei anima a um, e desencoraja o outro, não é evidência de que ele esteja debaixo da lei, e não debaixo da graça15.

13 Romanos 6:14; Gálatas 2:16; Romanos 8:1, 10:4
14 Romanos 3:20, 7:7, etc.
15 Romanos 6:12-14; 1 Pedro 3:8-13

7. Nem são os supracitados usos da lei contrários à graça do Evangelho, mas suavemente condizem com ele16: o Espírito de Cristo submete e habilita a vontade do homem a fazer livre e alegremente, o que a vontade de Deus, revelada na lei, requer que seja feito17.

16 Gálatas 3:21
17 Ezequiel 36:27


Capítulo XX: Do Evangelho e Extensão de Sua Graça

1. O pacto das obras foi quebrado pelo pecado, e tornou-se para [conduzir à] vida, Deus Se agradou em desvelar a promessa de Cristo, a semente da mulher, como o meio de chamar os eleitos, e gerando neles a fé e o arrependimento1: Nesta promessa a essência do Evangelho foi revelada, e é feita eficaz para a conversão e salvação dos pecadores2.

1 Gênesis 3:15
2 Apocalipse 13:8

2. Esta promessa de Cristo, e da salvação por meio dEle, é revelada somente pela Palavra de Deus3; nem as obras da criação ou providência, com a luz da natureza, desvelam a Cristo, ou a graça por meio dEle, tanto como de uma forma geral ou obscura4; muito menos os homens destituídos da revelação dEle pela promessa ou evangelho, devem ser assim habilitados para alcançar a fé salvadora ou arrependimento5.

3 Romanos 1;17
4 Romanos 10:14,15,17
5 Provérbios 29:18; Isaías 25:7; 60:2,3

3. A revelação do evangelho aos pecadores, feita em diversas épocas, e em partes diversas, com a adição de promessas e preceitos para a obediência nele exigidas, como para as nações e pessoas a quem é concedida, é apenas da vontade soberana e beneplácito de Deus6, não sendo anexado em virtude de alguma promessa para o devido aprimoramento das habilidades naturais do homem, em virtude da luz comum recebida sem ela, o que ninguém jamais fez ou pode fazer assim7. E, portanto, em todas as épocas, a pregação do evangelho tem sido concedida a pessoas e nações, como a extensão ou limitação do mesmo, em grande variedade, de acordo com o conselho da vontade de Deus.

6 Salmos147:20; Atos 16:7
7 Romanos 1:18-32

4. Apesar do evangelho ser o único meio exterior de revelação de Cristo e graça salvadora, e é, como tal, para isso abundantemente suficiente; ainda assim, para que os homens que estão mortos em delitos possam nascer de novo, ser vivificados ou regenerados, é necessária uma obra eficaz, invencível do Espírito Santo sobre toda a alma, para produzir neles uma nova vida espiritual8, sem a qual nenhum outro meio será suficiente para a sua conversão a Deus9.

8 Salmos110:3; 1 Coríntios 2:14; Efésios 1:19,20
9 João 6:44; 2 Coríntios 4:4,6


Capítulo XXI: Da Liberdade do Cristão, e Liberdade de Consciência

1. A liberdade que Cristo comprou para os crentes sob o Evangelho consiste em sua liberdade da culpa do pecado, da ira condenatória de Deus, do rigor e maldição da lei1; e consiste na libertação do presente século mau2, escravidão de Satanás3, do domínio do pecado4, do mal das aflições5, do temor e aguilhão da morte, da vitória da sepultura6, e da condenação eterna7; como também em seu livre acesso a Deus, e sua obediência prestada, não por medo servil8, mas por amor filial, e mente voluntária9. Tudo o que era comum também aos crentes sob a lei, pela substância delas10; mas sob o Novo Testamento, a liberdade dos Cristãos é ainda mais ampliada em sua liberdade do jugo de uma lei cerimonial, à qual a Igreja Judaica foi submetida; e na maior ousadia de acesso ao trono da graça, e nas comunicações mais plenas do livre Espírito de Deus, do que os crentes sob a lei ordinariamente participaram11.

1 Gálatas 3:13
2 Gálatas 1:4
3 Atos 26:18
4 Romanos 8:3
5 Romanos 8:28
6 1 Coríntios 15:54-57
7 2 Tessalonicenses 1:10
8 Romanos 8:15;
9 Lucas 1:73-75; 1 João 4:18
10 Gálatas 3;9,14
11 João 7:38,39; Hebreus 10:19-21

2. Deus é o único Senhor da consciência12, e a deixou livre de doutrinas e mandamentos humanos que, em qualquer respeito, são contrários à sua Palavra, ou não contidos nela13; de modo que, crer em tais doutrinas, ou obedecer a tais mandamentos, por motivo de consciência14, equivale a trair a verdadeira liberdade de consciência; e requerer de alguém uma fé implícita, uma obediência absoluta e cega, equivale a destruir a liberdade de consciência, e a razão também15.

12 Tiago 4:12; Romanos 14:4
13 Atos 4:19,29; 1 Coríntios 7:23; Mateus 15:9
14 Colossenses 2:20,22,23
15 1 Coríntios 3:5; 2 Coríntios 1:24

3. Aqueles que, sob pretexto de liberdade Cristã, praticam qualquer pecado ou toleram qualquer pecaminosa concupiscência, com isso tanto deturpam o propósito principal da graça do evangelho para a própria destruição deles16; como também destroem totalmente a finalidade da liberdade Cristã; a qual é, sendo libertados das mãos de todos os nossos inimigos, podemos servir ao Senhor, sem temor, em santidade e justiça perante Ele, todos os dias das nossas vidas17.

16 Romanos 6:1,2
17 Gálatas 5:13; 2 Pedro 2:18,21


Capítulo XXII: Do Culto Religioso e do Dia do Senhor

1. A luz da natureza mostra que existe um Deus, que tem senhorio e soberania sobre tudo; [que Ele] é justo, bom, e faz bem a todos; e, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido com todo o coração, e com toda a alma e com toda a força1. Mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo2 e tão limitado por Sua própria vontade revelada, de forma que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou qualquer outro modo não prescrito na Sagrada Escritura3.

1 Jeremias 10:7; Marcos 12:33
2 Deuteronômio 12:32
3 Êxodo 20:4-6

2. O culto religioso deve ser dado a Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo; e somente a Ele4: não a anjos, santos, ou qualquer outra criatura5, e desde a Queda, não sem um Mediador6; nem na mediação de qualquer outro senão de Cristo7.

4 Mateus 4:9,10; João 6:23; Mateus 28:19
5 Romanos 1:25; Colossenses 2:18; Apocalipse 19:10
6 João 14:6
7 1 Timóteo 2:5

3. A oração com ações de graças, sendo uma parte natural da adoração, é por Deus exigida de todos os homens8. Mas, para que possa ser aceita, deve ser feita em nome do Filho9, com a ajuda do Espírito10, segundo a Sua vontade11, com entendimento, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança; e, quando com outros, em uma língua conhecida12.

8 Salmos 95:1-7, 65:2
9 João 14:13,14
10 Romanos 8:26
11 1 João 5:14
12 1 Coríntios 14:16,17

4. A oração deve ser feita por coisas lícitas, e por todos os tipos de homens vivos, ou que ainda viverão13; mas não pelos mortos14, nem por aqueles de quem possa ser conhecido que pecaram o pecado para a morte15.

13 1 Timóteo 2:1,2; 2 Samuel 7:29
14 2 Samuel 12:21-23
15 1 João 5:16

5. A leitura das Escrituras16, pregação, e atenção à Palavra de Deus17, o ensino e advertência mútua, louvor em salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando com graça em nossos corações ao Senhor18; bem como a devida administração do Batismo19 e Ceia do Senhor20, são todas partes do culto religioso a Deus, a serem realizados em obediência a Ele, com entendimento, fé, reverência, e temor piedoso; além disso, Solene humilhação, com jejuns21 e ações de graças em ocasiões especiais devem ser usados de um modo santo e religioso22.

16 1 Timóteo 4:13
17 2 Timóteo 4:2; Lucas 8:18
18 Colossenses 3:16; Efésios 5:19
19 Mateus 28:19,20
20 1 Coríntios 11:26
21 Ester 4:16; Joel 2:12
22 Êxodo 15:1-19, Salmos107

6. Nem oração, nem qualquer outra parte do culto religioso, é agora, sob o evangelho, restrita, ou feita mais aceitável devido a qualquer local em que é realizada, ou para o qual é dirigida, mas Deus deve adorado em todo lugar, em espírito e em verdade23; tanto no cotidiano de famílias privadas24
e 25, e em secreto, cada um por si26, e muito mais solenemente em assembleias públicas, que não devem ser, descuidada ou deliberadamente, negligenciadas ou abandonadas, quando Deus, pela Sua Palavra ou providência, nos conclama a presta-lo27.

23 João 4:21; Malaquias 1:11; 1 Timóteo 2:8
24 Atos 10:2
25 Mateus 6:11; Salmos 55:17
26 Mateus 6:6
27 Hebreus 10:25; Atos 2:42

7. Como é a lei da natureza, que, em geral, uma proporção do tempo, pelo desígnio de Deus, seja destinada ao culto de Deus.; assim, pela Sua Palavra, em um preceito positivo, moral e perpétuo, ordena a todos os homens em todas as eras, Ele particularmente nomeou um dia em sete para um descanso, para ser-Lhe santificado28; e, desde o início do mundo até a ressurreição de Cristo, foi o último dia da semana; e, a partir da ressurreição de Cristo, foi mudado para o primeiro dia da semana, o que é chamado de Dia do Senhor29, e deve continuar até o fim do mundo como o Sábado Cristão; sendo abolida a observação do último dia da semana.

28 Êxodo 20:8
29 1 Coríntios 16:1,2; Atos 20:7; Apocalipse 1:10

8. O sabath é assim santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações, e ordenado os seus assuntos comuns de antemão, não apenas observam um santo descanso todo o dia a partir de suas próprias obras, palavras e pensamentos sobre suas ocupações e recreações mundanas30; mas também dedicam todo o tempo em exercícios públicos e privados de Seu culto e nos deveres de necessidade e misericórdia31.

30 Isaías 58:13; Neemias 13:15-22
31 Mateus 12:1-13


Capítulo XXIII: Dos Juramentos Legais e dos Votos

1. O juramento lícito é uma parte do culto religioso, no qual a pessoa, jurando em verdade, justiça e juízo, solenemente chama a Deus por testemunha do que assevera1, para julgá-lo de acordo com a verdade ou falsidade disso2.

1 Êxodo 20:7; Deuteronômio 10:20; Jeremias 4:2
2 2 Crônicas 6:22, 23

2. É somente pelo nome de Deus que os homens devem jurar, e este deve ser usado com todo o santo temor e reverência; pois, jurar em vão, ou, temerariamente, por esse nome glorioso e terrível, ou jurar por qualquer outra coisa, é pecado, e abominável3. No entanto, como, em matéria de peso e momento, para confirmação da verdade, e término de toda contenda, um juramento é autorizado pela Palavra de Deus4, sob o Novo Testamento, bem como sob o Velho, como um juramento legal, sendo exigido pela autoridade legal, em tais assuntos deve ser feito5.

3 Mateus 5:34,37; Tiago 5:12
4 Hebreus 6:16; 2 Coríntios 1:23
5 Neemias 13:25

3. Todo aquele que prestará um juramento, garantido pela Palavra de Deus, deve considerar refletidamente a gravidade de um ato tão solene, e que nesse nada afirme senão o que ele saiba ser a verdade, pois pelos juramentos precipitados, falsos e vãos, o Senhor é provocado, e por eles esta terra se lamenta6.

6 Levítico 19:12; Jeremias 23:10

4. Um juramento deve ser tomado no sentido claro e óbvio das palavras, sem equívoco ou reserva mental7.

7 Salmos 24:4

5. Um voto, não deve ser feito a qualquer criatura, mas somente a Deus, é de semelhante natureza que o juramento promissório, e deve ser feito e cumprido com todo cuidado religioso, e deve ser executado com semelhante fidelidade8; mas os votos monásticos que os papistas fazem de celibato perpétuo9, pobreza10 professa e obediência regular, em vez serem graus de mais elevada perfeição, não passam de laços supersticiosos e pecaminosos, nos quais nenhum Cristão deve enredar-se11.

8 Salmos 76:11; Gênesis 28:20-22
9 1 Coríntios 7:2,9
10 Efésios 4:28
11 Mateus 19:1


Capítulo XXIV: Do Magistrado Civil

1. Deus, o Senhor Supremo e Rei de todo o mundo, ordenou os magistrados civis para que estejam sob Ele sobre o povo, para a Sua própria glória e para o bem público; e para este fim, os armou com o poder da espada, para defesa e incentivo dos que fazem o bem, e para castigo dos malfeitores1.

1 Romanos 13:1-4

2. É legal que os cristãos aceitem e exerçam o ofício de magistrado, quando chamados a isso; e em sua administração, como eles devem especialmente manter a justiça e paz2, segundo todas as leis de cada reino e comunidade, de modo que, para esse efeito, podem legalmente, agora sob o Novo Testamento, empreender guerra em ocasiões justas e necessárias3.

2 2 Samuel 23:3; Salmos 82:3,4
3 Lucas 3:14

3. Sendo os magistrados civis instituídos por Deus para os fins supracitados; requer-se de nós a obediência, no Senhor, em todas as coisas lícitas ordenadas pelas autoridades, não apenas por causa da punição, mas como dever de consciência4. Devemos suplicar e orar pelos magistrados e todos os que estão investidos de autoridade, para que, sob seu governo, vivamos vida calma e pacífica, com toda piedade e honestidade5.

4 Romanos 13:5-7; 1 Pedro 2:17
5 1 Timóteo 2:1,2


Capítulo XXV: Do Matrimônio

1. O casamento deve ser entre um homem e uma mulher: nem é lícito ao homem ter mais de uma esposa, nem à mulher ter mais de um marido ao mesmo tempo1.

1 Gênesis 2:24; Malaquias 2:15; Mateus 19:5,6

2. O casamento foi ordenado para o auxílio mútuo entre marido e mulher2; para a propagação da humanidade por uma sucessão legítima3, e a prevenção da impureza4.

2 Gênesis 2:18
3 Gênesis 1:28
4 1 Coríntios 7:2,9

3. O casamento é lícito para todos os tipos de pessoas, desde que possam dar o seu consentimento racional5. No entanto, é o dever dos Cristãos casarem-se no Senhor6. E, portanto, como professam a verdadeira religião não devem casar-se com infiéis, ou idólatras; nem devem, como os tais que são piedosos, estar em jugo desigual, casando-se com os que são ímpios em suas vidas, ou defendam heresia condenável7.

5 Hebreus 13:4; 1 Timóteo 4:3
6 1 Coríntios 7:39
7 Neemias 13:25-27

4. Não devem casar-se pessoas entre as quais existam graus de parentesco ou consanguinidade que sejam proibidos na Palavra de Deus8. As uniões incestuosas jamais poderão ser legitimadas por qualquer lei humana ou pelo consentimento das partes, pois não é correto tais pessoas viverem juntas, como marido e mulher9.

8 Levítico 18
9 Marcos 6:18; 1 Coríntios 5:1


Capítulo XXVI: Da Igreja

1. A igreja católica ou universal, que (em relação à obra interior do Espírito e verdade da graça) pode ser chamada invisível, consiste de todo o número dos eleitos, que foram, são ou serão reunidos em um só corpo, sob Cristo, a Cabeça da mesma; ela é a Esposa, o Corpo, a plenitude Daquele que enche tudo em todos1.

1 Hebreus 12:23; Colossenses 1:18; Efésios 1:10,22,23, 5:23,27,32

2. Todas as pessoas, em todo o mundo, que professam a fé do evangelho e obediência a Deus por meio de Cristo, de acordo com isso, não arruinando a sua própria profissão por quaisquer erros de subversão do fundamento, ou impureza de conversação, são, e podem ser chamadas de santos visíveis2; e dos tais, todas as congregações particulares devem ser constituídas3.

2 1 Coríntios 1:2; Atos 11:26
3 Romanos 1:7; Efésios 1:20-22

3. As Igrejas mais puras debaixo do céu estão sujeitas à mistura e ao erro4, e algumas tanto se degeneraram a ponto de tornarem-se não mais Igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás5; no entanto, Cristo sempre tem tido, e sempre terá, um reino neste mundo, até o fim deste, para aqueles que creem nEle, e fazem profissão de Seu nome6.

4 1 Coríntios 5; Apocalipse 2,3
5 Apocalipse 18:2; 2 Tessalonicenses 2:11,12
6 Mateus 16:18; Salmos72:17, 102:28; Apocalipse 12:17

4. O Senhor Jesus Cristo é a Cabeça da igreja, em Quem, pela designação do Pai, todo o poder de chamada, instituição, ordenação e governo da igreja, está investido de uma forma suprema e soberana7; nenhum Papa de Roma pode, em sentido algum, ser a cabeça desta, antes é aquele anticristo, o homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus, a quem o Senhor destruirá com o esplendor de Sua vinda8.

7 Colossenses 1:18; Mateus 28:18-20; Efésios 4:11,12
8 2 Tessalonicenses 2:2-9

5. Na execução deste poder com que Ele é assim confiado, o Senhor Jesus chama do mundo para Ele mesmo, através do ministério de Sua Palavra, por meio de Seu Espírito, aqueles que são dados a Ele por Seu Pai9, para que eles possam andar diante Dele em todos os caminhos da obediência, os quais Ele prescreveu em Sua Palavra10. Àqueles assim chamados, Ele ordena a andar juntos, em comunidades particulares, ou igrejas, para a sua mútua edificação, e para a devida realização do culto público, que Ele requer deles, no mundo11.

9 João 10:16; João 12:32
10 Mateus 28:20
11 Mateus 18:15-20

6. Os membros dessas igrejas são santos por chamamento, manifestando visivelmente e evidenciando (na e pela sua profissão e caminhar) a sua obediência a esse chamado de Cristo12; e voluntariamente consentem em caminhar juntos de acordo com a designação de Cristo, entregando-se a si mesmos ao Senhor, e uns pelos outros, pela Vontade de Deus em sujeição às ordenanças do Evangelho13.

12 Romanos 1:7; 1 Coríntios 1:2
13 Atos 2:41,42, 5:13,14; 2 Coríntios 9:13

7. Para cada uma dessas igrejas assim reunidas, de acordo com Sua mente declarada em sua Palavra, Ele tem dado todo aquele poder e autoridade, que é em toda forma necessário para a sua realização naquela ordem no culto e disciplina, que Ele instituiu para que eles observem, com ordens e regras para o devido e correto exercício e execução desse poder14.

14 Mateus 18:17, 18; 1 Coríntios 5:4, 5, 5:13, 2 Coríntios 2:6-8

8. Uma igreja local, reunida e completamente organizada de acordo com a mente de Cristo, consiste em oficiais e membros; e os oficiais designados por Cristo a serem escolhidos e separados pela igreja (assim chamada e reunida), para a peculiar administração de ordenanças e execução de poder ou dever, que ele é confiado a eles, ou chamado a eles, a ser continuado até o fim do mundo, são os bispos ou presbíteros e diáconos15.

15 Atos 20:17, 28; Filipenses 1:1

9. O caminho apontado por Cristo para o chamamento de qualquer pessoa, capacitada e dotada pelo Espírito Santo, para o ofício de bispo ou presbítero em uma igreja, é que ele seja escolhido para isso pelo sufrágio comum da própria igreja16 e solenemente separado por jejum e oração, com a imposição das mãos do presbitério da igreja, se houver algum nela anteriormente constituído17. E de um diácono, que ele seja escolhido por semelhante sufrágio, e separado por meio de oração, e semelhante imposição de mãos18.

16 Atos 14:23
17 1 Timóteo 4:14
18 Atos 6:3,5,6

10. O trabalho dos pastores, estando constantemente a atender ao serviço de Cristo, em Suas igrejas, no ministério da Palavra e oração, com a assistência às suas almas, como quem deve prestar contas a Ele19; cabe às igrejas a quem eles ministram, não somente conceder-lhes o devido respeito, mas também comunica-los em todas as suas boas coisas, de acordo com sua capacidade20, de modo que eles possam ter um suprimento confortável, sem serem enredados em assuntos seculares21; e também sejam capaz de exercer hospitalidade para com os outros22; e isto é exigido pela lei da natureza, e por ordem expressa de nosso Senhor Jesus, que para isso ordenou que os que pregam o evangelho, vivam do Evangelho23.

19 Atos 6:4; Hebreus 13:17
20 1 Timóteo 5:17,18; Gálatas 6:6,7
21 2 Timóteo 2:4
22 1 Timóteo 3:2
23 1 Coríntios 9:6-14

11. Apesar de ser a incumbência dos bispos ou pastores das igrejas serem pontuais em pregar a Palavra, por meio de ofício; ainda assim, o trabalho de pregar a Palavra não é tão exclusivamente limitado a eles, mas aqueles outros também dotados e capacitados pelo Espírito Santo para isso, e aprovados e chamados pela igreja, podem e devem realizá-lo24.

24 Atos 11:19-21; 1 Pedro 4:10,11

12. Como todos os crentes são obrigados a unirem-se às igrejas locais, quando e onde eles tiverem a oportunidade assim fazê-lo, então todos os que são admitidos aos privilégios de uma igreja, também estão sob a censura e governo desta, de acordo com a regra de Cristo25.

25 1 Tessalonicenses 5:14; 2 Tessalonicenses 3:6,14,15

13. Nenhum membro, por causa de qualquer ofensa recebida por eles, tendo realizado o seu dever requerido em relação às pessoas com quem eles estão ofendidos, deve perturbar qualquer ordem ou abster-se das assembleias da igreja, ou administração de qualquer das ordenanças, sobre a consideração de tal ofensa a qualquer um de seus membros companheiros, mas deve esperar em Cristo, e deixar que o seu caso seja resolvido pela disciplina da igreja26.

26 Mateus 18:15-17; Efésios 4:2,3

14. Como cada igreja e todos os membros dela são compelidos a orar continuamente para o bem ou prosperidade de todas as igrejas de Cristo27 em todos os lugares e em todas as ocasiões para promover isso; (cada um dentro dos limites de seus lugares e chamados, no exercício de seus dons e graças). Assim, as próprias igrejas, quando plantadas pela providência de Deus, de modo que eles possam ter oportunidade e proveito por isso, devem manter comunhão entre si por sua paz, aumento do amor e edificação mútua28.

27 Efésios 6:18; Salmos 122:6
28 Romanos 16:1,2; 3 João 8-10

15. Em caso de dificuldades ou diferenças, seja em um ponto doutrinário ou administração, se as igrejas em geral estão afetadas, ou qualquer uma igreja, em sua paz, união e edificação; ou algum membro ou membros de qualquer igreja estão injuriados, em e por qualquer procedimento de censuras em não conformidade com a verdade e ordem, é de acordo com a mente de Cristo, que muitas igrejas mantendo a comunhão juntas, por meio de seus mensageiros, encontrem-se para considerar, e deem seu parecer em ou sobre a questão de diferença, a ser comunicada a todas as igrejas envolvidas29, no entanto, estes mensageiros reunidos, não são investidos de qualquer poder eclesiástico, propriamente dito, ou com qualquer jurisdição sobre as igrejas que as constituem, para exercer quaisquer censuras sobre igrejas ou pessoas; ou impor a sua determinação sobre as igrejas ou oficiais30.

29 Atos 15:2,4,6,22,23,25
30 2 Coríntios 1:24; 1 João 4:1


Capítulo XXVII: Da Comunhão dos Santos

1. Todos os santos são unidos a Jesus Cristo, seu Cabeça, pelo seu Espírito e pela fé, muito embora isso não os torne uma só pessoa com Ele, temos comunhão com Ele em Suas graças, sofrimentos, morte, ressurreição e glória1, e, estando unidos uns aos outros em amor, eles têm comunhão com os mesmos dons e graças2, e são obrigados ao cumprimento de tais deveres, públicos e privados, de uma forma ordenada, assim como contribuírem para seu bem mútuo, tanto no homem interior e exterior3.

1 1 João 1:3; João 1:16; Filipenses 3:10; Romanos 6:5,6
2 Efésios 4:15,16; 1 Coríntios 12:7; 3:21-23
3 1 Tessalonicenses 5:11,14; Romanos 1:12; 1 João 3:17,18; Gálatas 6:10

2. Os santos, por meio da profissão [de fé], são obrigados a manter uma santa associação e comunhão no culto de Deus, e na realização de outros serviços espirituais, que tendem a sua mútua edificação4; como também no alívio de uns aos outros em coisas materiais, de acordo com suas diversas capacidades e necessidades5, de acordo com a norma do Evangelho, esta comunhão, embora deva ser exercida especialmente no âmbito familiar6 e das igrejas7, ainda assim, conforme Deus oferecer oportunidade, deve ser estendida a toda a família da fé, mesmo a todos os que, em todo lugar, invocam o nome do Senhor Jesus; Entretanto, a comunhão de uns com os outros, como santos, não destrói nem infringe o direito ou a propriedade de cada pessoa, seus bens e possessões8.

4 Hebreus 10:24,25, 3:12,13
5 Atos 11:29,30
6 Efésios 6:4
7 1 Coríntios 12:14-27
8 Atos 5:4; Efésios 4:28


Capítulo XXVIII: Do Batismo e da Ceia do Senhor

1. O Batismo e a Ceia do Senhor são ordenanças de positiva e soberana instituição, nomeados pelo Senhor Jesus, o único legislador, para ser continuada em Sua igreja até o fim do mundo1.

1 Mateus 28:19,20; 1 Coríntios 11:26

2. Estas santas ordenanças devem ser administradas somente por aqueles que são qualificados e para isso chamados, de acordo com o comissionamento de Cristo2.

2 Mateus 28:19; 1 Coríntios 4:1


Capítulo XXVIX: Do Batismo

1. Batismo é uma ordenança do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo, sendo para a pessoa batizada um sinal de sua comunhão com Ele, em sua morte e ressurreição; de sua união com Ele3; da remissão dos pecados4, e da sua consagração a Deus, através de Jesus Cristo, para viver e andar em novidade de vida5.

3 Romanos 6:3-5; Colossenses 2:12; Gálatas 3:27
4 Marcos 1:4; Atos 22:16
5 Romanos 6:4

2. Aqueles que realmente professam o arrependimento para com Deus, fé, e obediência ao nosso Senhor Jesus Cristo, são os únicos sujeitos apropriados desta ordenança6.

6 Marcos 16:16; Atos 8:36,37, 2:41, 8:12, 18:8

3. O elemento exterior a ser usado nesta ordenança é a água, na qual a pessoa deve ser batizada em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo7.

7 Mateus 28:19, 20; Atos 8:38

4. Imergir ou mergulhar a pessoa em água, é necessário para a apropriada administração desta ordenança8.

8 Mateus 3:16; João 3:23


Capítulo XXX: Da Ceia do Senhor

1. Nosso Senhor Jesus, na noite em que foi traído, instituiu o sacramento de Seu corpo e sangue, chamado Ceia do Senhor, a ser observado em suas igrejas até o fim do mundo; para lembrança perpétua e demonstração do sacrifício de Si mesmo em Sua morte1, confirmação da fé dos crentes em todos os benefícios disso, seu alimento espiritual e crescimento nEle, seu maior envolvimento em todos os deveres deles para com Ele; e ser um vínculo e penhor de sua comunhão com Ele e uns com os outros2.

1 1 Coríntios 11:23-26
2 1 Coríntios 10:16,17,21

2. Nesta ordenança Cristo não é oferecido ao Pai, nem qualquer sacrifício real é feito de modo algum para remissão dos pecados dos vivos ou mortos, mas um memorial daquela oferta única de Si mesmo, por Si mesmo, na cruz, de uma vez por todas3, e uma oblação espiritual de todo o louvor possível a Deus pelo mesmo4; de modo que o sacrifício papal da missa, como eles chamam, é a mais abominável injúria ao próprio único sacrifício de Cristo, a única propiciação por todos os pecados dos eleitos.

3 Hebreus 9:25,26,28
4 1 Coríntios 11:24; Mateus 26:26,27

3. O Senhor Jesus, nesta ordenança, nomeou seus ministros para orar e abençoar os elementos do pão e do vinho, e, assim, separá-los a partir de um uso comum para um uso sagrado; e tomar e partir o pão, tomar o cálice, e (eles também participando) para oferecer ambos aos comungantes5.

5 1 Coríntios 11:23-26, etc.

4. A negação do cálice ao povo; adoração dos elementos, o levantá-los, ou carregá-los em adoração, e reserva-los para qualquer pretenso uso religioso, são todos contrários à natureza desta ordenança e à instituição de Cristo6.

6 Mateus 26:26-28, 15:9, Êxodo 20:4,5

5. Os elementos exteriores desta ordenança, devidamente consagrados aos usos ordenados por Cristo, têm tal relação com Ele crucificado, como que realmente, embora em termos usados de forma figurativa, são às vezes chamados pelo nome das coisas que representam, a saber, o corpo e o sangue de Cristo7; ainda que, em substância e natureza, eles ainda permaneçam verdadeiramente, e somente, pão e vinho, como eram antes8.

7 1 Coríntios 11:27
8 1 Coríntios 11:26-28

6. Aquela doutrina que sustenta uma mudança da substância do pão e do vinho, na substância do corpo de Cristo e do sangue (comumente chamado de transubstanciação) pela consagração de um sacerdote, ou por qualquer outra forma, é repugnante, não somente às Escrituras9, mas até mesmo para o bom senso e razão; destrói a natureza da ordenança; e tem sido, e é, a causa de superstições múltiplas, sim, de idolatrias grosseiras10.

9 Atos 3:21; Lucas 14:6,39
10 1 Coríntios 11:24,25

7. Os que comungam dignamente, participando exteriormente dos elementos visíveis desta ordenança, em seguida, também interiormente pela fé, realmente e de fato, não de maneira carnal e corporalmente, mas espiritualmente, recebem e alimentam-se de Cristo crucificado, e todos os benefícios de Sua morte; o corpo e Sangue de Cristo não sendo corporal ou carnal, mas espiritualmente, presentes à fé dos crentes nessa ordenança, como estão os próprios elementos aos seus sentidos exteriores11.

11 1 Coríntios 10:16, 11:23-26

8. Todas as pessoas ignorantes e ímpias, como eles são incapazes de desfrutar de comunhão com Cristo, são também indignos da mesa do Senhor, e não podem, sem grande pecado contra Ele, enquanto eles permanecem assim, participar destes santos mistérios, ou ser admitido a eles12, sim, quem receber indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor, comendo e bebendo juízo para si mesmo13.

12 2 Coríntios 6:14,15
13 1 Coríntios 11:29; Mateus 7:6


Capítulo XXXI: Do Estado do Homem após a Morte e da Ressurreição dos Mortos

1. Os corpos dos homens, depois da morte, voltam ao pó, e vêm à corrupção1; mas as suas almas (que nem morrem nem dormem), tendo uma substância imortal, retornam imediatamente para Deus que as deu2. As almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no paraíso, onde eles estão com Cristo e veem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos3; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde permanecem em tormento e trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia4. Além destes dois lugares destinados às almas separadas de seus corpos as Escrituras não reconhecem nenhum outro.

1 Gênesis 3:19; Atos 13:36
2 Eclesiastes 12:7
3 Lucas 23:43; 2 Coríntios 5:1,6,8; Filipenses 1:23; Hebreus 12:23
4 Judas 6, 7; 1 Peter 3:19; Lucas 16:23,24

2. No último dia, os que dentre os santos estiverem vivos não dormirão, mas serão transformados5 e todos os mortos serão ressuscitados com os seus mesmos corpos, e não outros6, embora com qualidades diferentes, que serão novamente unidos às suas almas para sempre7.

5 1 Coríntios 15:51,52; 1 Tessalonicenses 4:17
6 Jó 19:26,27
7 1 Coríntios 15:42,43

3. Os corpos dos injustos serão, pelo poder de Cristo, ressuscitados para a desonra; os corpos dos justos, pelo Seu Espírito, para honra e para serem semelhantes ao Seu próprio corpo glorioso8.

8 Atos 24:15; João 5:28,29; Filipenses 3:21

Capítulo XXXII: Do Juízo Final

1. Deus tem determinado um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de Jesus Cristo1, a quem todo o poder e julgamento é dado pelo Pai. Naquele dia, não só os anjos apóstatas serão julgados2; mas também todas as pessoas, que viveram sobre a terra devem comparecer perante o tribunal de Cristo, para darem conta de seus pensamentos, palavras e ações; e receberem de acordo com o que eles fizeram no corpo, seja bom ou mal3.

1 Atos 17:31; João 5:22,27
2 1 Coríntios 6:3; Judas 6
3 2 Coríntios 5:10; Eclesiastes 12:14; Mateus 12:36; Romanos 14:10,12; Mateus 25:32-46

2. O propósito de Deus, ao estabelecer esse dia, consiste em manifestar a glória de sua misericórdia na salvação eterna dos eleitos; e de Sua justiça na eterna condenação dos réprobos, que são perversos e desobedientes4. Pois, então os justos irão para a vida eterna e receberão aquela plenitude de gozo e glória, com eterno galardão na presença do Senhor, mas os ímpios, que não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho de Jesus Cristo, serão lançados nos tormentos eternos5, e punidos com eterna destruição, a partir da presença do Senhor, e da glória do Seu poder6.

4 Romanos 9:22,23
5 Mateus 25:21,34; 2 Timóteo 4:8
6 Mateus 25:46; Marcos 9:48; 2 Tessalonicenses 1:7-10

3. Cristo deseja que estejamos bem persuadidos de que haverá um dia de juízo, para que os homens se afastem do pecado7, e para maior consolação dos piedosos em sua adversidade8; assim Ele manterá esse dia desconhecido para os homens, para que possam estar livres de toda a segurança carnal, e estar sempre vigilantes, porque não sabemos a que hora o Senhor virá9; e que possamos estar sempre preparados para dizer: Vem, Senhor Jesus, vem depressa10. Amém.

7 2 Coríntios 5:10,11
8 2 Tessalonicenses 1:5-7
9 Marcos 13:35-37; Lucas 12:35-40
10 Apocalipse 22:20


DECLARAÇÃO FINAL DOS SIGNATÁRIOS

Nós, os Ministros e Mensageiros de, e preocupados com mais de cem IGREJAS BATISTAS, na Inglaterra e no País de Gales (negando o Arminianismo), estando reunidos em Londres, a partir do terceiro dia do sétimo mês ao décimo primeiro do mesmo ano de 1689, para considerarmos algumas questões que podem ser para a glória de Deus, e para o bem dessas congregações, já pensamos encontrar (para a satisfação de todos os demais Cristãos que diferem de nós no ponto do Batismo) a recomendação de sua leitura de confissão de nossa fé, cuja confissão nós mesmos fizemos, como contendo a doutrina de nossa fé e prática, e anelamos que os próprios membros de nossas igrejas sejam supridos com ela.

Hansard Knollys, Pastor Broken Wharf, London
William Kiffin, Pastor Devonshire-square, London
John Harris, Pastor, Joiner’s Hall, London
William Collins, Pastor, Petty France, London
Hurcules Collins, Pastor, Wapping, London
Robert Steed, Pastor, Broken Wharf, London
Leonard Harrison,Pastor, Limehouse, London
George Barret, Pastor, Mile End Green, London
Isaac Lamb, Pastor, Pennington-street, London
Richard Adams, Ministro, Shad Thames, Southwark
Benjamin Keach, Pastor, Horse-lie-down, Southwark
Andrew Gifford, Pastor, Bristol, Fryars, Som. & Glouc.
Thomas Vaux, Pastor, Broadmead, Som. & Glouc.
Thomas Winnel, Pastor, Taunton, Som. & Glouc.
James Hitt, Pregador, Dalwood, Dorset
Richard Tidmarsh, Ministro, Oxford City, Oxon
William Facey, Pastor, Reading, Berks
Samuel Buttall, Ministro,, Plymouth, Devon
Christopher Price, Ministro, Abergayenny, Monmouth
Daniel Finch, Ministro, Kingsworth, Herts
John Ball, Ministro, Tiverton, Devon
Edmond White, Pastor, Evershall, Bedford
William Prichard, Pastor, Blaenau, Monmouth
Paul Fruin, Minister, Warwick, Warwick
Richard Ring, Pastor, Southhampton, Hants
John Tomkins, Ministro, Abingdon, Berks
Toby Willes, Pastor, Bridgewater, Somerset
John Carter, Pastor, Steventon, Bedford
James Webb, Pastor, Devizes, Wilts
Richard Sutton, Pastor, Tring, Herts
Robert Knight, Pastor, Stukeley, Bucks
Edward Price, Pastor, Hereford City, Hereford
William Phipps, Pastor, Exon, Devon
William Hawkins, Pastor, Dimmock, Gloucester
Samuel Ewer, Pastor, Hemstead, Herts
Edward Man, Pastor, Houndsditch, London
Charles Archer, Pastor, Hock-Norton, Oxon

 
 
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